Crescimento econômico agrava "apagão" profissional
Pesquisa aponta que 69% das empresas enfrentam dificuldades por falta de mão de obra qualificada
O forte ritmo de crescimento econômico do Brasil tem agravado a falta de mão de obra qualificada. Quem procura uma vaga no mercado de trabalho em muitos casos tem mais oportunidades para escolher. Mas, por outro lado, as organizações têm enfrentado problemas em relação à qualificação desses profissionais.
Segundo a Sondagem Industrial Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada em abril deste ano, 69% das empresas enfrentam dificuldades por falta de mão de obra qualificada. O principal impacto, de acordo com a pesquisa, recai sobre a produtividade e a qualidade dos produtos. Do total das companhias consultadas, 52% afirmam que o maior desafio é a baixa qualidade da educação básica. Para resolver essa questão, 78% das empresas avaliadas afirmam qualificar os trabalhadores na própria companhia.
Porte da empresa | Percentual de empresas com dificuldade em encontrar profissionais qualificados |
Pequena | 70% |
Média | 70% |
Grande | 63% |
Área/Categoria profissional | Percentual de empresas com falta de trabalhadores qualificados |
Gerencial | 62% |
Administrativa | 66% |
Produção (engenheiros) | 61% |
Produção (técnicos) | 82% |
Produção (operadores) | 94% |
Vendas/Marketing | 71% |
Pesquisa e Desenvolvimento | 62% |
Sondagem Especial CNI
De acordo com André Calixtre, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a falta de mão de obra qualificada é setorializada. “No geral, em muitas áreas temos um excedente de mão de obra, mas em alguns setores específicos, como a área de engenharia, há uma grande escassez.”
Verônica Ahrens, sócia da consultoria de gestão de carreiras Crescimentum, afirma que o principal fator para essa falta de mão de obra qualificada é o aquecimento da economia. “O faturamento das empresas vem crescendo a cada ano. Com isso, surgem muitas oportunidades, mas não há muitos profissionais formados e preparados para desempenhar as funções.”
Para isso, além de o profissional se especializar, também é preciso que as empresas tenham um papel mais forte na formação de seus líderes. “Se o chefe desenvolve, inspira e ajuda o funcionário a crescer, dificilmente ele sairá da empresa. Mas, se o líder não faz isso, fica muito mais fácil as organizações perderem esses poucos profissionais qualificados”, afirma Verônica. Isso porque eles acabam trocando de emprego e, muitas vezes, por uma pequena diferença de salário.
Há vagas, mas aumenta a dificuldade em encontrar profissionais qualificados
Segundo Verônica, esse problema contribui para a alta rotatividade nas empresas. “As pessoas têm muita oferta. Se não está se sentindo reconhecido naquele lugar, ele sai e em seguida consegue outro emprego.” Por isso, um dos maiores investimentos das organizações tem sido, segundo a consultora, na formação de líderes para reter os profissionais qualificados.
Qualificação
“O funcionário pode não ter o conhecimento técnico, mas muitas atividades ele aprende no seu dia a dia, se alguém estiver disposto a ensiná-lo”, acredita Verônica. Portanto, as empresas também podem qualificar esses profissionais. E é essa própria capacitação que gera a motivação para que ele continue na companhia.
O problema da qualificação também vem de uma educação de base. “Muitas vezes, as escolas públicas, infelizmente, não suprem as necessidades das pessoas”, ressalta Verônica.
No entanto, na avaliação de Calixtre, apesar de a educação ser importante para a qualificação do trabalhador e para a formação do cidadão, o aumento dos postos de trabalho é mais determinante para o sucesso do profissional. Calixtre aconselha que o profissional busque fazer cursos técnicos, o que acelera seu processo de entrada no mercado de trabalho. “A educação sempre vai ajudar, mas o que determina é a existência de vagas.”
Setores
Na avaliação de Verônica, os setores que mais enfrentam esse problema são os de engenharia, construção civil e produção. “Há uma grande falta de pessoas em níveis mais técnicos.” Em produção, por exemplo, há alguns polos nos quais o crescimento está levando as fábricas a trazer profissionais de outros Estados. “A população da região não consegue atender à demanda das indústrias por mão de obra.”
Segundo Calixtre, a diferença da falta de mão de obra qualificada entre os setores é explicada pelo dinamismo heterogêneo da economia. A construção civil, por exemplo, cresce muito mais do que os outros setores. Por isso, nessa área a falta de mão de obra qualificada é maior. “Por ser um setor que se aqueceu muito rapidamente, o estoque de mão de obra especializada se esgotou. Nesse segmento, a maior ausência é de nível técnico.”
Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral com 130 empresas de grande porte no Brasil aponta que 52% enfrentam dificuldades na contratação de profissionais na área de produção e “chão de fábrica”.
Nível dos profissionais Percentual das empresas com dificuldades
Operacional 40%
Técnico 64,62%
Tático 34,26%
Estratégico 36,92%
Calixtre explica que esse é um dos motivos do Ministério da Educação ter criado o Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec): atender a essa demanda por mão de obra qualificada em determinadas áreas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário