segunda-feira, 16 de maio de 2011

Gigante dos Supermercados do Nordeste

Gigante dos supermercados compra briga com "mais barato do País"

No Maiobão, bairro da periferia de Paço do Lumiar (MA), varejistas disputam consumidor que puxa o crescimento econômico brasileiro

Pedro Carvalho, enviado ao Maranhão | 16/05/2011 05:55

Na periferia de Paço do Lumiar, uma cidade colada a São Luís (MA), fica o Maiobão, bairro de comércio onde há cerca de dez anos funciona o Feirão e Distribuidora São Francisco, “o mais barato do Brasil”, segundo a placa na entrada. É um supermercado que vende R$ 6 milhões por mês em carnes, verduras, produtos de limpeza e afins para as classes D e E. Desde setembro passado, seu Menezes, o dono, arrumou um concorrente de peso – do outro lado da avenida e um pouco mais adiante, abriu as portas uma filial do grupo Mateus, um gigante do varejo no estado, com 22 lojas, 10 mil funcionários e faturamento anual de R$ 2,3 bilhões.

Entrada do Feirão e Distribuidora São Francisco: preços anunciados por hora
Foto: iG

Entrada do Feirão e Distribuidora São Francisco: preços anunciados por hora

No alvo da disputa está um consumidor que foi o pulmão do crescimento econômico brasileiro no último ano – aquele que passou a gastar mais após ascender para a classe C. Não à toa, a economia do Maranhão cresceu cerca de 10% em 2010, ou seja, mais que a do Nordeste (8,3%), que cresceu mais que a do Brasil (7,5%), que teve o maior crescimento dos últimos 24 anos. “Há pouco mais de um ano, a gente olhava o bairro e pensava: por que abrir uma loja nele?”, conta Jesuíno Martins, diretor comercial do grupo Mateus. “Mas percebemos que nossos distribuidores estavam vendendo bastante para os comércios de lá [o grupo também faz distribuição] e decidimos apostar”.

O resultado deixou Martins surpreso. No mês da inauguração, a loja vendeu cerca de R$ 8 milhões, quando o esperado era R$ 3,5 milhões. “Normalmente, as filiais levam um ano para amadurecer e atingir esse ponto”, conta. Segundo pesquisa divulgada essa semana pela Associação Paulista de Supermercados, as classes D e E, ainda maioria no Maiobão, consumiram 16% a mais em 2010, com relação ao ano anterior – nas classes C e A/B, o aumento foi de 13%. “Rapaz, o sujeito começa a ganhar um dinheirinho e já vai pro consumo, não tem jeito”, diz Ilson Mateus, proprietário do império varejista maranhense.

Outra coisa surpreendente é que o sucesso da loja não abalou as vendas no Feirão e Distribuidora São Francisco. “Ele tem uma clientela fiel”, explica Ilson. De fato, o “mais barato do Brasil” está sempre lotado. As filas do caixa avançam pelos corredores mal iluminados. Os preços são anunciados o tempo todo num microfone – eles variam por hora, numa espécie de bolsa de valores varejista. Por isso, as paredes ficam forradas de papéis com as últimas cotações da cebola e do detergente. “O Menezes não faz conta, vai por instinto de comerciante”, afirma Mateus. “O leite em pó, por exemplo, ele compra no meu mercado e revende mais barato no dele”.

Na última terça-feira, por volta das 14h30, o quilo do tomate saia por R$ 1,79, contra R$ 2,79 no novo concorrente. Praticamente todos os produtos são mais caros no Mateus, mas os corredores são mais limpos e organizados – como num supermercado “comum”. “Quem passa para a classe C quer tratamento classe A. Minha avó já dizia que a gente se acostuma rápido ao que é bom”, diz Ilson. A loja que o grupo abriu no Maiobão é um “atacarejo”, formato no qual os clientes encontram dois preços para cada produto – um deles com desconto, caso comprem certa quantidade.

Ilson, que apesar de bilionário anda com um Gol 1.0 e mora num apartamento alugado, não fala que Menezes “não faz conta” em tom de critica ao concorrente. Na verdade, segundo o empresário, eles têm uma boa relação. “Outro dia ele pediu meu terreno, que é vizinho ao mercado dele, para fazer de estacionamento”, conta. “Uma vez eu entrei no mercado e ele provocou no microfone: o Mateus está aqui, é bom mesmo, para ele aprender a vender”, diverte-se. A reportagem não conseguiu encontrar e entrevistar Menezes – na verdade, teve de tirar as fotos do mercado de forma rápida e disfarçada, já que algumas recomendações de higiene parecem negligenciadas.

Nessa disputa local pelos consumidores da nova classe C, a verdade é que tanto Mateus quanto Menezes chegaram antes e marcaram território – contra varejistas de capital estrangeiro como o Carrefour, que no Maranhão atua com a bandeira Atacadão, e Walmart, representado pelo Bom Preço. Eles têm, respectivamente, uma e seis lojas em São Luís. “A gente consegue sentir a temperatura dos bairros antes, por causa de nossa distribuidora”, explica Mateus. “Vamos para onde começa a vender bem e dominamos primeiro”. No Maiobão, cujo nome deriva do Rio Maioba (e não de "maior bom"), está quase tudo dominado.

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