World Economic Forum/Divulgação
Warren Buffett (à esq.) e Bill Gates: mais pobres por opção
Doação
Quem quer deixar de ser bilionário?
Um apelo para que as pessoas mais abastadas dos Estados Unidos doem metade de seu patrimônio, na semana passada, conquistou a adesão de quarenta bilionários e põe em discussão os limites da riqueza individual
Ana Claudia Fonseca
Revista Veja – 11/08/2010
Bill Gates e Warren Buffett, pela ordem o segundo e o terceiro homem mais rico do mundo, de acordo com o ranking da revista americana Forbes, lançaram oficialmente na quarta-feira passada uma campanha ambiciosa: convencer os bilionários dos Estados Unidos a doar no mínimo metade de sua fortuna a instituições de caridade. Até agora, quarenta ricaços aceitaram o desafio. Juntos, eles têm um patrimônio de 230 bilhões de dólares, o equivalente ao PIB da Colômbia. Se cumprirem o prometido, vão distribuir um total de 120 bilhões de dólares. O compromisso é moral, não contratual. Os signatários declararam sua intenção de doar o dinheiro, mas não estipularam como farão isso nem para quem. Alguns decidiram abrir sua carteira por pragmatismo, outros por ideologia. Houve ainda quem doasse por vaidade, como o magnata do petróleo T. Boone Pickens, de 82 anos, que justificou a obsequiosidade dizendo estar "ansioso pelo dia em que ultrapassarei a marca de 1 bilhão de dólares em doações". Todos têm em comum a convicção de que não sentirão muita falta do dinheiro. O investidor Buffett, por exemplo, decidiu se livrar de 99% de seus recursos. Ele está seguro de que viverá muito bem com o 1% restante. "Alguns bens materiais tornam minha vida mais agradável; outros, nem tanto. Gosto de ter um avião particular, mas ter meia dúzia de casas seria um fardo", escreveu Buffett em uma carta aberta em que insta outros bilionários a seguir o seu exemplo.
Abrir mão de metade da fortuna parece um gesto oposto ao da ambição que leva um indivíduo a acumular posses por toda a vida. Há, contudo, uma lógica nesse desprendimento. "A percepção da riqueza é muito subjetiva, depende do que uma pessoa considera necessário para manter o seu padrão de vida", diz o economista José Monforte, da Janos Participações, empresa com sede em São Paulo que faz a gestão de fortunas familiares. Segundo Monforte, há um momento na carreira dos bilionários americanos em que eles começam a refletir sobre o significado dos pertences acumulados e sobre qual seria o melhor destino para eles. Não se trata apenas de benevolência, mas de deixar algum legado para a sociedade. "Eles não dão simplesmente o dinheiro. Fazem melhor: investem em projetos científicos e educacionais e acompanham de perto os resultados", diz René Werner, de São Paulo, especialista em administração de patrimônio de corporações e famílias.
Uma explicação para a generosidade nos Estados Unidos é cultural. O senso de caridade faz parte da figura do self-made man, o cidadão que vence por seus próprios méritos. Andrew Carnegie (1835-1919), a personificação desse mito, costumava dizer que "o homem que morre rico morre em desgraça". Filho de um tecelão, ele enriqueceu como industrial e legou todo o dinheiro a fundações, museus e universidades. Gates, de 54 anos, segue os passos de Carnegie. Em seu testamento, ele deixa quase toda a fortuna para a Fundação Bill & Melinda Gates, a maior financiadora privada de projetos de pesquisa da cura de doenças que afetam as populações miseráveis do planeta. O sistema de tributação dos Estados Unidos incentiva e premia as doações com generosos créditos tributários. No Brasil, ao contrário, o doador tem de cumprir um calvário burocrático penoso e ainda pagar impostos sobre a doação.
A FALTA QUE O DINHEIRO NÃO FAZ
A soma das doações dos quarenta ricaços americanos que prometeram entregar metade de sua fortuna à filantropia pode ultrapassar os 120 bilhões de dólares
Esse valor...
...Equivale ao PIB anual do Peru, um país com 29 milhões de habitantes
...É suficiente para manter o programa Bolsa Família durante 176 meses
...Sustentaria a Cruz Vermelha nas Américas durante 12 000 anos
O mais generoso na morte
Bill Gates, dono de 53 bilhões de dólares, deixará uma herança de apenas 10 milhões de dólares para cada um dos três filhos. O restante vai para a filantropia
O mais generoso em vida
Warren Buffett prometeu doar 99% de seus 47 bilhões de dólares antes de morrer. Ele garante que, com os 470 milhões de dólares que sobrarem, conseguirá manter suas necessidades básicas, que incluem:
• Morar em uma casa de cinco quartos em Omaha, Nebraska, que ele comprou aos 28 anos de idade
• Almoçar na sua lanchonete predileta, no centro da cidade
• Viajar em seu jato particular, um Gulfstream IV
• Dirigir um Cadillac DTS
LÁ INCENTIVAM, AQUI DESESTIMULAM
DOAÇÕES
BRASIL - Entre 1% e 8% do valor doado é tributado
ESTADOS UNIDOS - O imposto de renda credita a favor do doador até 45% do valor doado
HERANÇA
BRASIL - O estado fica com até 8% dos bens e dinheiro
ESTADOS UNIDOS - O Fisco pode ficar com 45% do patrimônio total deixado para os herdeiros
Fontes: Giving USA e HSBC
Veja também:
Os bilionários do bem
Generosidade para todos
Doação
Um apelo para que as pessoas mais abastadas dos Estados Unidos doem metade de seu patrimônio, na semana passada, conquistou a adesão de quarenta bilionários e põe em discussão os limites da riqueza individual
ana Claudia Fonseca
Revista Veja – 11/08/2010
Bill Gates e Warren Buffett, pela ordem o segundo e o terceiro homem mais rico do mundo, de acordo com o ranking da revista americana Forbes, lançaram oficialmente na quarta-feira passada uma campanha ambiciosa: convencer os bilionários dos Estados Unidos a doar no mínimo metade de sua fortuna a instituições de caridade. Até agora, quarenta ricaços aceitaram o desafio. Juntos, eles têm um patrimônio de 230 bilhões de dólares, o equivalente ao PIB da Colômbia. Se cumprirem o prometido, vão distribuir um total de 120 bilhões de dólares. O compromisso é moral, não contratual. Os signatários declararam sua intenção de doar o dinheiro, mas não estipularam como farão isso nem para quem. Alguns decidiram abrir sua carteira por pragmatismo, outros por ideologia. Houve ainda quem doasse por vaidade, como o magnata do petróleo T. Boone Pickens, de 82 anos, que justificou a obsequiosidade dizendo estar "ansioso pelo dia em que ultrapassarei a marca de 1 bilhão de dólares em doações". Todos têm em comum a convicção de que não sentirão muita falta do dinheiro. O investidor Buffett, por exemplo, decidiu se livrar de 99% de seus recursos. Ele está seguro de que viverá muito bem com o 1% restante. "Alguns bens materiais tornam minha vida mais agradável; outros, nem tanto. Gosto de ter um avião particular, mas ter meia dúzia de casas seria um fardo", escreveu Buffett em uma carta aberta em que insta outros bilionários a seguir o seu exemp
Abrir mão de metade da fortuna parece um gesto oposto ao da ambição que leva um indivíduo a acumular posses por toda a vida. Há, contudo, uma lógica nesse desprendimento. "A percepção da riqueza é muito subjetiva, depende do que uma pessoa considera necessário para manter o seu padrão de vida", diz o economista José Monforte, da Janos Participações, empresa com sede em São Paulo que faz a gestão de fortunas familiares. Segundo Monforte, há um momento na carreira dos bilionários americanos em que eles começam a refletir sobre o significado dos pertences acumulados e sobre qual seria o melhor destino para eles. Não se trata apenas de benevolência, mas de deixar algum legado para a sociedade. "Eles não dão simplesmente o dinheiro. Fazem melhor: investem em projetos científicos e educacionais e acompanham de perto os resultados", diz René Werner, de São Paulo, especialista em administração de patrimônio de corporações e famílias.
Uma explicação para a generosidade nos Estados Unidos é cultural. O senso de caridade faz parte da figura do self-made man, o cidadão que vence por seus próprios méritos. Andrew Carnegie (1835-1919), a personificação desse mito, costumava dizer que "o homem que morre rico morre em desgraça". Filho de um tecelão, ele enriqueceu como industrial e legou todo o dinheiro a fundações, museus e universidades. Gates, de 54 anos, segue os passos de Carnegie. Em seu testamento, ele deixa quase toda a fortuna para a Fundação Bill & Melinda Gates, a maior financiadora privada de projetos de pesquisa da cura de doenças que afetam as populações miseráveis do planeta. O sistema de tributação dos Estados Unidos incentiva e premia as doações com generosos créditos tributários. No Brasil, ao contrário, o doador tem de cumprir um calvário burocrático penoso e ainda pagar impostos sobre a doação.
A FALTA QUE O DINHEIRO NÃO FAZ
A soma das doações dos quarenta ricaços americanos que prometeram entregar metade de sua fortuna à filantropia pode ultrapassar os 120 bilhões de dólares
Esse valor...
...Equivale ao PIB anual do Peru, um país com 29 milhões de habitantes
...É suficiente para manter o programa Bolsa Família durante 176 meses
...Sustentaria a Cruz Vermelha nas Américas durante 12 000 anos
O mais generoso na morte
Bill Gates, dono de 53 bilhões de dólares, deixará uma herança de apenas 10 milhões de dólares para cada um dos três filhos. O restante vai para a filantropia
O mais generoso em vida
Warren Buffett prometeu doar 99% de seus 47 bilhões de dólares antes de morrer. Ele garante que, com os 470 milhões de dólares que sobrarem, conseguirá manter suas necessidades básicas, que incluem:
• Morar em uma casa de cinco quartos em Omaha, Nebraska, que ele comprou aos 28 anos de idade
• Almoçar na sua lanchonete predileta, no centro da cidade
• Viajar em seu jato particular, um Gulfstream IV
• Dirigir um Cadillac DTS
LÁ INCENTIVAM, AQUI DESESTIMULAM
DOAÇÕES
BRASIL - Entre 1% e 8% do valor doado é tributado
ESTADOS UNIDOS - O imposto de renda credita a favor do doador até 45% do valor doado
HERANÇA
BRASIL - O estado fica com até 8% dos bens e dinheiro
ESTADOS UNIDOS - O Fisco pode ficar com 45% do patrimônio total deixado para os herdeiros
Fontes: Giving USA e HSBC
Veja também:
Os bilionários do bem
Generosidade para todos
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