domingo, 1 de agosto de 2010

Quem quer deixar de ser bilionário?

World Economic Forum/Divulgação

Warren Buffett (à esq.) e Bill Gates: mais pobres por opção

Doação

Um apelo para que as pessoas mais abastadas dos Estados Unidos doem metade de seu patrimônio, na semana passada, conquistou a adesão de quarenta bilionários e põe em discussão os limites da riqueza individual

ana Claudia Fonseca
Revista Veja – 11/08/2010


Bill Gates e Warren Buffett, pela ordem o segundo e o terceiro homem mais rico do mundo, de acordo com o ranking da revista americana Forbes, lançaram oficialmente na quarta-feira passada uma campanha ambiciosa: convencer os bilionários dos Estados Unidos a doar no mínimo metade de sua fortuna a instituições de caridade. Até agora, quarenta ricaços aceitaram o desafio. Juntos, eles têm um patrimônio de 230 bilhões de dólares, o equivalente ao PIB da Colômbia. Se cumprirem o prometido, vão distribuir um total de 120 bilhões de dólares. O compromisso é moral, não contratual. Os signatários declararam sua intenção de doar o dinheiro, mas não estipularam como farão isso nem para quem. Alguns decidiram abrir sua carteira por pragmatismo, outros por ideologia. Houve ainda quem doasse por vaidade, como o magnata do petróleo T. Boone Pickens, de 82 anos, que justificou a obsequiosidade dizendo estar "ansioso pelo dia em que ultrapassarei a marca de 1 bilhão de dólares em doações". Todos têm em comum a convicção de que não sentirão muita falta do dinheiro. O investidor Buffett, por exemplo, decidiu se livrar de 99% de seus recursos. Ele está seguro de que viverá muito bem com o 1% restante. "Alguns bens materiais tornam minha vida mais agradável; outros, nem tanto. Gosto de ter um avião particular, mas ter meia dúzia de casas seria um fardo", escreveu Buffett em uma carta aberta em que insta outros bilionários a seguir o seu exemp


Abrir mão de metade da fortuna parece um gesto oposto ao da ambição que leva um indivíduo a acumular posses por toda a vida. Há, contudo, uma lógica nesse desprendimento. "A percepção da riqueza é muito subjetiva, depende do que uma pessoa considera necessário para manter o seu padrão de vida", diz o economista José Monforte, da Janos Participações, empresa com sede em São Paulo que faz a gestão de fortunas familiares. Segundo Monforte, há um momento na carreira dos bilionários americanos em que eles começam a refletir sobre o significado dos pertences acumulados e sobre qual seria o melhor destino para eles. Não se trata apenas de benevolência, mas de deixar algum legado para a sociedade. "Eles não dão simplesmente o dinheiro. Fazem melhor: investem em projetos científicos e educacionais e acompanham de perto os resultados", diz René Werner, de São Paulo, especialista em administração de patrimônio de corporações e famílias.

Uma explicação para a generosidade nos Estados Unidos é cultural. O senso de caridade faz parte da figura do self-made man, o cidadão que vence por seus próprios méritos. Andrew Carnegie (1835-1919), a personificação desse mito, costumava dizer que "o homem que morre rico morre em desgraça". Filho de um tecelão, ele enriqueceu como industrial e legou todo o dinheiro a fundações, museus e universidades. Gates, de 54 anos, segue os passos de Carnegie. Em seu testamento, ele deixa quase toda a fortuna para a Fundação Bill & Melinda Gates, a maior financiadora privada de projetos de pesquisa da cura de doenças que afetam as populações miseráveis do planeta. O sistema de tributação dos Estados Unidos incentiva e premia as doações com generosos créditos tributários. No Brasil, ao contrário, o doador tem de cumprir um calvário burocrático penoso e ainda pagar impostos sobre a doação.

A FALTA QUE O DINHEIRO NÃO FAZ
A soma das doações dos quarenta ricaços americanos que prometeram entregar metade de sua fortuna à filantropia pode ultrapassar os 120 bilhões de dólares

Esse valor...
...Equivale ao PIB anual do Peru, um país com 29 milhões de habitantes
...É suficiente para manter o programa Bolsa Família durante 176 meses
...Sustentaria a Cruz Vermelha nas Américas durante 12 000 anos

O mais generoso na morte
Bill Gates, dono de 53 bilhões de dólares, deixará uma herança de apenas 10 milhões de dólares para cada um dos três filhos. O restante vai para a filantropia

O mais generoso em vida
Warren Buffett prometeu doar 99% de seus 47 bilhões de dólares antes de morrer. Ele garante que, com os 470 milhões de dólares que sobrarem, conseguirá manter suas necessidades básicas, que incluem:
• Morar em uma casa de cinco quartos em Omaha, Nebraska, que ele comprou aos 28 anos de idade
• Almoçar na sua lanchonete predileta, no centro da cidade
• Viajar em seu jato particular, um Gulfstream IV
• Dirigir um Cadillac DTS

LÁ INCENTIVAM, AQUI DESESTIMULAM

DOAÇÕES
BRASIL - Entre 1% e 8% do valor doado é tributado
ESTADOS UNIDOS - O imposto de renda credita a favor do doador até 45% do valor doado

HERANÇA
BRASIL - O estado fica com até 8% dos bens e dinheiro
ESTADOS UNIDOS - O Fisco pode ficar com 45% do patrimônio total deixado para os herdeiros
Fontes: Giving USA e HSBC

Veja também:
Os bilionários do bem
Generosidade para todos


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