quinta-feira, 9 de junho de 2011

É endinheirado porque arrisca ou arrisca porque é endinheirado?

Pesquisa global decifra a cabeça dos milionários para saber se eles só assumem riscos nos investimentos porque já têm a vida ganha

Se nem todo pobre compra com cheque pré-datado, nem todo rico acende o charuto com uma nota de US$ 100. Há ricaços e ricaços, como atestou pesquisa divulgada nesta semana pelo Barclays Wealth, instituição britânica de administração de fortunas. E essa conclusão foi obtida com a aparente solução de um paradoxo que aflige iniciantes no mercado acionário: o endinheirado é endinheirado porque arrisca ou só arrisca porque é endinheirado?

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Na pesquisa, realizada globalmente com duas mil pessoas, todas com patrimônio investido de no mínimo 1 milhão de libras esterlinas (R$ 2,6 milhões), os entrevistados que tinham mais dinheiro foram também os que responderam “eu compro e vendo ativos mais do que deveria”. Essa sentença foi verdadeira para 16% dos entrevistados com patrimônio entre £ 1 milhão e £ 1,9 milhão (R$ 2,6 milhões e R$ 3,1 milhões). Na outra ponta, 20% dos magnatas com mais de £ 10 milhões aplicados (R$ 26 milhões) concordaram com a frase.

Richard Branson arriscou: tentou a sorte vendendo periquitos e árvores de Natal antes de dar certo com a Virgin. E ele entrou na aviação mal conhecendo o setor
Foto: Getty Images

Richard Branson arriscou: tentou a sorte vendendo periquitos e árvores de Natal antes de dar certo com a Virgin. E ele entrou na aviação mal conhecendo o setor

Se todos os entrevistados são milionários, e se os mais ricos da pesquisa são os que admitem arriscar demais, é possível que a solução do paradoxo penda para o lado de quem argumenta que o magnata só arrisca mais porque tem gordura para queimar. Mas, assim como o “paradoxo de Tostines” (uma leitura que a publicidade brasileira criou na década de 1980 para o dilema do ovo e da galinha), esta resposta pode não ser definitiva.

Entre os de maior patrimônio ouvidos na pesquisa, 36% disseram que compras e vendas frequentes são pré-requisito essencial para o sucesso nos mercados financeiros. Por seu lado, a frase é verdadeira para 32% dos que tinham menos de £ 1,9 milhão quando responderam o questionamento.

Mais assertivo – ao menos de acordo com o estudo – é dizer que, nos investimentos, os homens assumem mais riscos que as mulheres. Entre eles, 17% admitiram comprar e vender mais do que deveriam; entre elas, a fatia foi de 11%. Também de acordo com a pesquisa, 34% dos homens consideram que o sucesso no mercado financeiro depende de compras e vendas frequentes de ativos. A mesma resposta foi dada por 30% das mulheres.

O Homo Economicus e a insatisfação latina

A sofreguidão pode não significar mais ganhos. A empresa de pesquisas Dalbar analisou recentemente o comportamento dos investidores norte-americanos ao longo de 20 anos, até 2010, para comparar seus ganhos com os da bolsa de valores. Na média, os investidores ganharam 3,8% ao ano, desempenho muito aquém da alta do índice S&P 500, um dos principais termômetros da Bolsa de Nova York, que teve ganho médio anual de 9,1% nesse intervalo. Conclusão de Neil Stewart, professor de psicologia da Warwick University, citado pelo Barclays Wealth: “ O Homo Economicus, um ser humano tomador de decisões racional, simplesmente não existe”.

O paradoxo de Tostines:

Em seus diversos recortes, a pesquisa analisou separadamente o estado de espírito dos investidores por países e regiões. Os endinheirados latino-americanos figuraram com destaque no quadro que mostrava os menos satisfeitos com sua situação financeira (os mais satisfeitos são os suíços, alegres com seu gentílico que, para ouvidos brasileiros, é quase um sinônimo de bonança). Pode ser coincidência, pode não ser, mas os latino-americanos também apareceram no quadro dos investidores menos dispostos a aplicações de alto risco.

Risco é necessário para ampliar ganhos, conclui o estudo, arremedando um mantra-chavão dos investidores. Mas não pode ser assumido a qualquer hora, com qualquer ativo, em uma decisão muitas vezes tomada não com a parcimônia como guia, mas com a ansiedade. No mundo dos empreendedores, foi com risco que Richard Branson, já um bem-sucedido figurão da indústria fonográfica, criou a companhia aérea Virgin – e ele pouco sabia do setor.

E uma outra conclusão do Barclays Capital: o “Zen do Envelhecimento”. “Nos países pesquisados”, afirma o estudo, “à medida que o investidor abonado fica mais velho, ele desenvolve uma atitude de calma, aceitação e satisfação com suas vidas financeiras”. Pode-se inferir que o banco britânico de magnatas parafraseou Nelson Rodrigues - que, quando instigado a dar um conselho aos jovens, cuspiu: “Envelheçam.”

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