quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Você é um workaholic?

Dedicação excessiva pode trazer problemas de saúde e arrependimento pessoal

Fonte IG SP Maria Carolina Nomura, iG São Paulo 31/08/2011 05:58

Trabalhar 14 horas por dia no escritório, chegar em casa e ainda dar aquela última olhada no e-mail. Em fins de semana, não desgrudar do celular e checar as mensagens a cada hora para ver se existe alguma pendência no trabalho. Se você se identificou com alguma dessas atitudes, cuidado: pode ser um workaholic, alguém que é viciado em trabalho – o que não se traduz, necessariamente, por competência e bom desempenho.

Segundo a psicóloga clínica Kátia Cristina Horpaczky, estudos recentes de casos clínicos em consultórios psicológicos e psiquiátricos concluíram que o vício de trabalho é similar à adição ao álcool ou cocaína. “A mola-mestra é a compulsão”, diz ela. “Para o workaholic, o trabalho torna-se uma obsessão. A sociedade desaprova bêbados e drogados, mas aprova e até admira quem trabalha demais.”

Foto: Danilo Chamas / Fotomontagem iG sobre SXC/Flickr CC

“Para o workaholic, o trabalho torna-se uma obsessão. A sociedade desaprova bêbados e drogados, mas aprova e até admira quem trabalha demais”, diz psicóloga

Entre tantos motivos que levam a tal situação, a psicóloga relaciona a competição acirrada no ambiente profissional, a busca de poder e status, a realização profissional e, muitas vezes, a fuga de problemas íntimos ou familiares.

Além disso, Kátia diz que o trabalho passa a ser também um escudo protetor, pois nele se encontram os meios necessários para manter escondidos os conflitos emocionais, que o executivo não quer ou não consegue resolver. “Em consequência, a pessoa necessita de aplausos e de reconhecimento, tornando-se assim, muitas vezes, ansiosa”, explica a psicóloga.

“É o narcisista patológico”, avalia o economista e pesquisador do Centro de estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Unicamp (Universidade Federal de Campinas) Alessandro Cesar Ortuso, cuja tese de doutoramento pela instituição em 2008 teve como tema “A ética da concorrência e seus heróis”.

Patologia

“As principais características que definem a personalidade narcisista são funcionais para o sucesso na carreira. É uma personalidade perfeitamente ajustada para vencer as solitárias batalhas impostas pela concorrência”, diz um trecho da tese de Ortuso.

Para o acadêmico, o que explica as longas horas de trabalho do executivo é, em última instância, o acirramento da competição individual por um lugar de destaque dentro do único espaço possível capaz de afirmar nossa existência em sociedade: o mercado de trabalho.

“A carreira executiva, a despeito da existência de monopólios sociais, ainda permite uma pequena brecha para a passagem de alguns que não tiveram um ponto de partida privilegiado. São heróis. Empreendedores de si mesmos bem-sucedidos. (...) De qualquer maneira, não podemos esquecer que estamos celebrando e admirando um herói doente. Por isso mesmo, o narcisismo é uma patologia social. Define uma sociedade ou uma cultura que perdeu o interesse coletivo no futuro. Que vive individualmente para os prazeres de curto prazo porque perdeu o sentido de continuidade histórica.”

É preciso saber viver

Reinaldo Passadori, especialista em comunicação verbal e diretor do Instituto homônimo de Educação Corporativa, afirma que um dos grandes problemas do viciado em trabalho é que ele não sabe viver. “A família é algo paralelo a sua funções profissionais. Essas pessoas têm medo do fracasso e da perda da sua única fonte de vitalidade. Assim, focam cada vez mais em resultados, fazendo da sua vida e dos que convivem com ele um constante correr.”

Esse estresse diário tem consequências graves, acrescenta Kátia. “A pessoa só começa a perceber que está se autodestruindo quando identifica algum quadro de estresse, depressão, isolamento, úlcera ou problema cardíaco.”

A empresária Amalia Sina, ex-presidente da Walita e Phillip Morris do Brasil, que o diga. Entre outros absurdos cometidos em nome do trabalho, um deles, admite, foi voltar da licença-maternidade depois de um mês do nascimento do filho.

“Sempre sentei em cadeiras de onde saíam labaredas e eu não podia deixá-las vazias por tanto tempo por dois motivos: primeiro, porque eu tinha uma grande responsabilidade e, segundo, porque tinham mais dez pessoas querendo ocupar o meu lugar”, lembra.

“O fato de eu ter amamentado somente um mês é uma coisa que hoje eu carrego dentro de mim como uma dor. Nenhuma mulher deveria fazer isso. Deveria aproveitar e gozar os momentos de maternidade que tem e sentir esse momento divino. Porque lá na frente ela vai se arrepender, como eu me arrependi.”

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